Por que bebês fazem greve de peito?

Há tempos estava querendo escrever sobre essa situação greve de peito, que gera muita insegurança nas mães. É muito comum eu ver nos grupos de apoio à amamentação relatos desesperados de mães cujos bebês mamavam tranquilamente e, de uma hora pra outra, o bebê começa a recusar o peito. Pronto: confusão instalada, mãe desesperada e a mamadeira e o leite em pó prontos pra dar o bote naquela dupla que estava indo de vento em popa! Então, vamos começar do começo: NÃO, isso não é o início de um desmame natural e muito menos significa que seu bebê não curte mais o tetê. Em geral, essas fases duram em média de dois a quatro dias podendo se estender um pouco, em alguns casos. Logo mais abaixo, vou dar algumas dicas importantes de como encarar da melhor forma possível esse processo.

Antes de qualquer coisa, é importante termos em mente que, dificilmente, bebês com menos de um ano desmamam naturalmente, quando não há interferência de bicos artificiais ou leite em pó, porque nessa fase eles precisam do peito. As greves de peito, embora muitas vezes pareçam um desmame, não o são e, se prestarmos atenção, o bebê em geral nesses períodos de greve ficam descontentes, irritadiços, insatisfeitos. Nesse momento, o que podemos melhor fazer é tentar entender quais são as causas da greve e com muita calma e paciência encarar essa situação como uma fase e, como toda fase, PASSA!

DICA 1: TENTE IDENTIFICAR A CAUSA DA GREVE.  Em geral essas situações de greve de peito podem envolver tanto causas físicas como ambientais. Portanto, é sempre importante verificar se algumas dessas condições podem estar presentes:
ü      o bebê não está com alguma infecção nos ouvidos, resfriado ou gripado ou com alguma outra condição de saúde que lhe cause inapetência alimentar;
ü      refluxo gastroesofágico, que em geral causa dor e desconforto durante a mamada;
ü      excesso de fluxo de leite que pode fazer o bebê engasgar e causar desconforto;
ü      alergia ou hipersensibilidade a algo que a mãe possa ter consumido;
ü      dor após alguma situação como queda, batida, vacina, procedimento médico, etc;
ü      dor na boquinha reflexo de dente nascendo ou algum outro machucado na região;
ü      reação à algum produto como desodorante, loção, detergente, sabão em pó, etc.
ü      stress decorrente de alguma situação, superestimulação;
ü      mamadas reguladas pelo relógio, com intervalos rígidos;
ü      mudanças repentinas na rotina, viagem, mãe retornou ao trabalho, etc;
ü      situações estressantes durante as mamadas como gritos, ou brigas;
ü      reação da mãe muito negativa e exacerbada se o bebê mordeu o peito;
DICA 2: FAÇA DO SEIO UM LUGAR ACOLHEDOR. Não traga ele somente junto ao seio para tentar amamentá-lo principalmente se essas situações estejam gerando muito stress pra ambos. Faça desse contato com o seio algo que dê prazer ao bebê, com muito carinho, risadas, conversa e um momento de bastante contato ocular. Mostre a ele que o seio é o melhor lugar do mundo pra ele. Caso o leite esteja sendo oferecido em algum outro utensílio, faça desse momento algo emocionalmente neutro, diferente do peito, em todos os sentidos.
DICA 3: FAÇA CONTATO PELE A PELE. O contato do bebê com a mãe é sempre benéfico para ambos, tanto do ponto de vista fisiológico, uma vez estimula a produção de hormônios que favorecem a amamentação, como do ponto de vista emocional. Segurá-lo enquanto ele dorme, levá-lo num sling para fazer atividades em casa, tomar um longo e relaxado banho podem fazer milagres nas situações de greve!
DICA 4: OFEREÇA O SEIO NOS MOMENTOS EM QUE O BEBÊ ESTEJA SONOLENTO. É bastante comum uma maior aceitação do seio nesses casos, quando o bebê está mais relaxado e sonolento. Uma boa dica é lançar mão das posições prediletas dele. Uma ótima posição é a laid-back, a qual favorece os reflexos inatos dos bebê, onde a mãe fica reclinada com o bebê sobre ela.
Não oferecer quaisquer tipos de bicos artificiais também permite que ele volte a se interessar mais rapidamente pelo seio.
 DICA 5: ORDENHE UM POUCO A MAMA ANTES DE OFERECER AO BEBÊ. Logo que o bebê abocanha a mama, o fluxo ainda é lento pois nosso corpo leva um tempinho pra desencadear o reflexo de ejeção. Quando estimulamos previamente, podemos evitar que o bebê se irrite com o pouco fluxo do início.
DICA 6: AMAMENTE EM MOVIMENTO. Se você já tentou inúmeras posições estáticas e não obteve sucesso, vale a pena tentar amamentar seu bebê caminhando ou em movimento.
DICA 7: OFEREÇA A MAMA QUANDO O BEBÊ ESTIVER TRANQUILO. É extremamente desgastante não só pra um bebê, mas pra qualquer pessoa, se alimentar quando estamos irritados ou estressados. Pra comer bem, o bebê precisa estar calmo. Por isso, se seu bebê está agitado procure acalmá-lo antes de oferecer a mama, diminua o intervalo entre as ofertas pra que ele não fique com muita fome e, dessa forma, esteja mais tranquilo.
A maneira como vamos lidar com a greve, claro, depende também do momento em que ela acontece. Se rolar antes dos seis meses, período em que provavelmente ele ainda se encontra em aleitamento materno exclusivo, nossa principal preocupação diz respeito à hidratação e alimentação do bebê. Se o seu bebê efetivamente recusa a mama por horas a fio, uma maneira de você tentar alimentá-lo e evitar que sua produção caia por esses dias, é ordenhar seu próprio leite (ordenha manual ou com bomba) e oferecê-lo com uma colher, copinho ou seringa ao bebê. Mas veja, isso é a EXCEÇÃO e não a regra. Não queremos tapar o sol com a peneira, mas garantir um mínimo de ingesta pra que o bebê fique hidratado, alerta e ativo até que as coisas se estabeleçam. Caso a situação persista, não desista, busque ajuda especializada ou em grupos de apoio à amamentação!
Até a próxima!
Isa Crivellaro

 

Fonte: Breastfeeding solutions. Nancy Mohrbacher.

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