Alergia alimentar: porque NÃO desmamar meu bebê? (parte 2)

Dando continuidade ao texto postado semana passada, hoje tem mais informações sobre amamentação e alergia alimentar trazidas pela querida Heloize Milano! O texto tá simplesmente MARA! Enjoy it!
Beijo e até a próxima!
Isa Crivellaro

O leite materno é padrão ouro (ou o melhor que há) em se tratando de alimentação infantil e não existe qualquer alimento que se equipare a ele. As fórmulas, por mais caras e inovadoras que sejam, são apenas alimentos adequados e não chegam próximo, nem de longe, das propriedades que o leite materno possui. O leite materno é um alimento vivo, único e especialmente moldado para cada bebê. Ele carrega muito mais que calorias e nutrientes, contendo aproximadamente uma centena de componentes que não podem ser replicados na fórmula e, a cada dia, a ciência encontra no leite materno novas substâncias que estimulam a imunidade (para saber mais clique aqui!).

 
Isso faz T-O-D-A a diferença para a saúde de qualquer criança, especialmente para as alérgicas. 
 
Cada vez que a mãe amamenta ou entra em contato com microrganismos prejudiciais, há troca de “informações” entre a saliva do bebê e o corpo da mãe, que por sua vez entende que deve produzir novos anticorpos maternos que serão passados ao filho em próximas mamadas. Os estudos apontam, por exemplo, para a redução no risco de alergia alimentar familiar em bebês em aleitamento materno exclusivo até o quarto mês, com efeito protetivo persistente no prazo superior ao quarto mês. Se o bebê recebe fórmula, terá somente seus próprios anticorpos (que são presentes em níveis baixos) e um sistema imunológico imaturo e especialmente frágil quando se fala de crianças alérgicas, o que deixa o bebê muito mais vulnerável às infecções (para saber mais clique aqui!). Tanto é verdade que, em crianças com alto risco para asma, rinite alérgica e dermatite atópica, a recomendação é manter e estimular ainda mais o aleitamento materno até dois anos ou mais (veja aqui!).

E por falar em fórmulas lácteas, vamos pensar numa questão inerente que existe a elas: o custo. Fórmulas especiais para crianças alérgicas tem um custo MUITO elevado. Nas farmácias comuns, o preço da fórmula hipoalergênica de aminoácidos livre chega a girar em torno de 150 reais por lata de 400 g, que é suficiente para o preparo 12 porções (250 mL). Assim, para que se possa garantir o oferecimento de um alimento adequado dentro das necessidades nutricionais de bebês e crianças, é comum que as famílias recorram às farmácias de alto custo. Em média, são disponibilizadas 10 latas por mês para crianças com idade até 1 ano e cerca de 8 latas por mês para maiores de 1 ano (é apenas um número médio, pois depende de prescrição médica). Fazendo uma conta rápida, descobrimos que alimentar um bebê com fórmula especial custa, em média, 1500 reais POR MÊS! E, para dar noção do choque de realidade, no momento em que eu escrevo este texto, o fornecimento de fórmula especial para crianças alérgicas à proteína do leite de vaca está suspenso nas farmácias de alto custo no Estado de São Paulo e em outros locais. Não há perspectiva de retorno, até o momento, e centenas de famílias vivem um drama (veja mais a respeito aquie aqui).
 
Eu tenho certeza, quase absoluta, de que os profissionais que indicam o desmame a toque de caixa não falam sobre essas questões com as mães. Imagino também que não devam mencionar sobre a tristeza e a depressão que podem surgir desse ato em “prol da saúde da criança”. Também não devem falar que quando o bebê perde o peito de repente ele se sente desolado e sofre pela perda, o que pode fazê-lo se sentir rejeitado pela mãe. No entanto, compreendo que muitas mães tendem a acreditar nesse discurso de desmame vendo nele a saída de uma situação que às vezes está em um ponto desesperador (já que ninguém quer ver o filho se esvaindo em sangue, por exemplo). Uma mãe que está passando pelo drama da descoberta da alergia alimentar é uma mãe fragilizada emocionalmente. Nós mãestememos pela saúde dos nossos filhos e por isso é que buscamos os profissionais para nos ajudar a lidar com a situação. Nós acreditamos que os profissionais de saúde vão amparar nossa família com informação e orientação de qualidade. A realidade nem sempre corresponde a essa expectativa… Mas mães, não podemos nos deixar enganar jamais:  as evidências científicas estão do lado da amamentação!
 
Falta preparo para a grande maioria dos profissionais lidarem com o manejo adequado a questão da alergia alimentar. Tá, eu sei, é muito difícil encontrar um bom profissional para acompanhamento. Se, salvo raras exceções, não encontramos sequer apoio para amamentar uma criança sem qualquer restrição alimentar, imagine para amamentar uma alérgica. É triste! Não é fácil!! Mas, se nós, mães, detivermos a informação, podemos contrapô-la a qualquer indicação. Podemos (e devemos) questionar e discutir os rumos das orientações. No final das contas, aos profissionais da saúde cabe orientação adequada e não a decisão sobre o que será feito. A decisão cabe a nós e somente a nós.
O primordial para a mãe que amamenta é receber informação suficiente e de qualidade para garantir que o leite materno fique limpo de alérgenos para o seu filho, certo? A mãe que precisa estabilizar a criança deve ter em mente que qualquer alimento industrializado, cosmético, produto de limpeza e medicamento pode ser fonte do alérgeno. Mesmo que não haja indicação na embalagem é necessário entrar em contato com a empresa através do SAC e se certificar de que o produto é seguro. Atualmente, ainda não é obrigatória a rotulagem de traços e possíveis alérgenos alimentares de forma clara e compreensível nos produtos industrializados, mas passará a ser em julho de 2016 (veja nesse link: aqui). Ah, é importante frisar: diferente do que algumas pessoas dizem, não vão faltar nutrientes no leite materno do bebê alérgico. Nananinanão! O que acontece, na realidade, é um deslocamento das reservas maternas para suprir e garantir qualquer nutriente necessário ao bebê. Isso mesmo: o bebê é favorecido e, portanto, as mães precisam de apoio nutricional para garantir para si um aporte correto de nutrientes.
 
Para ajudar nessa jornada vale a pena buscar apoio virtual ou presencial. Em algumas cidades já existem associações para apoio às famílias que estão passando pela questão da alergia alimentar. Nas redes sociais existem diversos grupos de mães de crianças alérgicas onde é possível trocar informações de qualidade sobre todo o tipo de coisa, especialmente sobre produtos seguros. Foi através dessas redes de apoio virtual que eu encontrei as informações necessárias que permitiram que eu continuasse amamentando minha filha mais velha com segurança e, depois, que estabelecesse e seguisse com a amamentação e proporcionando um leite materno limpo de alérgenos para o mais novo, que está com 8 meses.
 
Pondere sempre que um profissional apresentar a fórmula como a salvação para a questão alérgica alimentar. Talvez seja melhor buscar por outras opiniões. Profissionais da saúde precisam ser muito responsáveis e agir com cautela, acompanhando as atualizações na área para assim garantir o aleitamento materno da criança alérgica, auxiliando técnica e emocionalmente as famílias que recebem o diagnóstico. 

 

AMAMENTE!

Para ler a primeira parte desse texto clique AQUI

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