Decifrando o comportamento dos bebês

Vejo, com uma certa frequência, mães (e lá em casa não foi nada muito diferente!) relatando a seguinte situação: durante os primeiros dias na maternidade o bebê dormia bastante e bastou chegar em casa pra que tudo virasse de pernas pro ar!

Alguém aí se identifica com essa situação? Pois bem! Hoje vamos falar sobre como os bebês costumam se comportar nos primeiros dias, pois saber o que esperar faz com que fiquemos mais tranquilas e confiantes, permitindo que saibamos como agir nas mais variadas situações, decifrando o comportamento infantil.

Nos primeiros meses, tendo em vista sua imaturidade linguística, os bebês precisam lançar mão do que conseguem efetivamente fazer para comunicar a seu cuidador que algo não está bem: o CHORO. O choro é sempre de FOME? Não. O choro é a principal, senão única, forma de comunicação do bebê nos primeiros meses de vida. Desta forma, é prudente imaginarmos que toda vez em que ele estiver desconfortável ou infeliz, vai expressar isso por meio do choro. Por isso, o choro pode ser sinal de fralda suja ou cheia, frio, calor, cólica, insegurança, saudade e, também, fome. Com o passar do tempo, a convivência com o bebê permite que esse choro seja “traduzido” por nós, adultos, mas como isso é difícil nos primeiros dias! Aos poucos, vamos conseguindo e de repente, nos pegamos dizendo: “Isso é fome!”, “Isso é sono!” Por isso, no início o que vale bastante é a tentativa e erro: checar a fralda, conferir se o bebê está com muita ou pouca roupa e, claro, oferecer o peito (geralmente resolve mais de 90% das questões!)!

Meu bebê só dorme se for no peito: Nenhum bebê nasce sabendo dormir sozinho, isso é da natureza humana. O sugar já fazia parte do comportamento do bebê dentro do útero e, além disso, constitui-se como uma necessidade fisiológica importante e, a melhor maneira de se suprir essa necessidade, é no seio da mãe. Sugar acalma e por isso acaba por ser uma facilitador na hora do soninho. Um bebê recém nascido apresenta muitos comportamentos que são Reflexos: o reflexo é um comportamento fruto de determinado estímulo específico. Por exemplo, é comum o bebê buscar o seio da mãe quando é estimulado através do toque na região oral (reflexo de busca ou procura). Da mesma forma, a sucção até por volta dos 3 meses é reflexa, ou seja, quando o seio da mãe toca seu palato (céu da boca) imediatamente o bebê começa a sugar. Esses e muitos outros reflexos primitivos presentes ao nascimento são super importantes no momento da amamentação e representam algo inato relacionado à sobrevivência de nossa espécie. Na medida em que o bebê cresce e se desenvolve neurologicamente, esses reflexos vão dando lugar aos comportamentos aprendidos.

Meu bebê dorme demais: Se o seu bebê é dorminhoco, não há mal nenhum em deixá-lo dar uma esticada no soninho SE ele estiver fazendo mamadas efetivas, encontra-se hidratado, e se apresenta ativo e reativo nos momentos em que está acordado. Contudo, principalmente no primeiro mês de vida, é prudente que as sonecas não ultrapassem um período de 4/5 horas, tendo em vista o risco maior de hipoglicemia. Meu bebê fica agitado, chorão e insaciável no final do dia: esse período do dia é chamado por muitas mães de A HORA DA BRUXA. Há quem diga que as famosas cólicas se manifestam principalmente nesse período do dia. Eu acredito muito na conexão emocional do bebê com seus cuidadores e, se pararmos pra pensar, esse é um momento em que estamos já exaustos das inúmeras tarefas do dia. Assim, temos duas situações nesse momento: um bebê capaz de sentir e manifestar toda a tensão presente e pais cansados e com a paciência diminuída. O resultado dessa equação não é muito bom, não é mesmo? Dar o peito acaba sendo a maneira mais fácil e rápida de acalmar o bebê e se a mãe está feliz em amamentar, não há inconveniente. Caso contrário, vale também tentar apelar pro colo alheio, do pai ou algum outro voluntário que possa levar o bebê para passear.

Não sei se meu bebê está mamando o suficiente: acho que o maior desespero de qualquer mãe é pensar que o filho possa estar passando fome. Por isso, é importante saber que as fraldas de xixi são um bom parâmetro pra mãe ter ideia se o bebê está se alimentando bem. A partir de uma semana de vida os bebês, em média, molham pelo menos 6 fraldas de xixi por dia. A observação do crescimento e desenvolvimento do bebê também nos dão uma boa ideia de como está a ingesta.

Meu bebê chora muito na hora do banho: Na hora do banho é importante sempre estarmos atentos à temperatura do ambiente em que o banho é dado, bem como da água em si. Além disso, é importante lembrarmos que bebês são motoramente “desorganizados”. Saem de um ambiente onde ficavam como num “pacotinho”, o útero, pra um lugar onde tem espaço de sobra. Dessa forma, é prudente imaginarmos que, num primeiro momento, o bebê pode se assustar com esse excesso de espaço, essa falta de contenção física, principalmente nas banheiras tradicionais, em que ficam mais soltos. Se prestarmos atenção, bebês adoram banho de ofurô. E porque? No ofurô, oferecemos essa contenção física ao bebê e simulamos um ambiente parecido com o útero.

Meu bebê regurgita muito após as mamadas: O trato gastrointestinal do recém-nascido é imaturo e, por isso, é muito comum alguns bebês golfarem após a mamada. Além disso, a auto-regulação (saber quando parar de mamar porque está saciado) é algo que vai se desenvolvendo na medida em que ele cresce (nesse sentido, a livre demanda é importante pois permite que o bebê aprenda por si só a controlar o volume de leite ingerido), então não é de se estranhar que o bebê muitas vezes mame além da conta. Quando as golfadas são muito frequentes e, associado a esse comportamento, observa-se um comprometimento no ganho de peso e/ou muito desconforto durante as mamadas, é interessante relatar a situação ao pediatra que acompanha o bebê para que o mesmo possa investigar a possibilidade de refluxo ou alergia alimentar.

Meu bebê está mamando muito mais do que o normal e voltou a acordar a noite: ao longo do primeiro ano de vida principalmente, os bebês passam por períodos de estirões de crescimento (já se pegou falando: nossa, ele cresceu MUITO essa semana?) e saltos de desenvolvimento que envolvem aquisições importantes em termos neurológicos (sustentar a cabeça, sentar, andar, falar…). Em tais fases é comum observarmos mudanças significativas no padrão de sono e frequência e qualidade das mamadas. Em geral, passada a fase, a tendência é as coisas ficarem mais organizadas novamente.

Angústia da Separação: por volta dos 8 meses, algo extraordinário acontece com o bebê. Ele começa a entender que as coisas existem independentemente de estarem em seu campo visual e ele passa a perceber que ele e sua mãe são pessoas diferentes e isso, de certa forma, traz muita angústia e insegurança pra ele. A tendência natural durante esse processo é o bebê requerer a mãe com mais frequência, ter seu padrão de sono alterado, ele pede pra mamar mais vezes ao dia e chora quando se percebe distante da mãe (sua ausência provoca muita angústia).

Todos esses comportamentos são normais e o mais importante é entendermos que faz parte do seu desenvolvimento e acolher o bebê da melhor maneira possível. Antes de qualquer coisa, é essencial entendermos sobre a imaturidade do bebê humano. Nossos bebês são os mais indefesos de todas as espécies e, por isso, nos primeiros anos de vida dependem de nós, adultos, para sobreviver, crescer e se desenvolver de maneira plena. Sair da barriga da mãe pra esse mundão aqui é uma mudança e tanto! E se pra nós, adultos, mudanças causam estranhezas, imagina pra um bebê! Ajustar-se a todas essas diferenças não é fácil e, por isso, principalmente no início, bebês precisam de muito contato físico e acolhimento.

Beijos Isa Crivellaro é mãe da Alice e da Olivia, fonoaudióloga de formação e “amamentóloga” por vocação.

Consultora internacional em amamentação, IBCLC. Autora do blog “Tetê nosso de cada dia”. Sua grande paixão é ajudar mães e bebês no estabelecimento da amamentação, que por vezes não é tarefa fácil.

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