Por Zioneth Garcia
Durante as consulta de amamentação é comum se deparar com a queixa do “leite fraco” ou “pouco leite” associado às queixas sobre o sono e rotina do bebê. O sono de bebês e crianças pequenas é uma das maiores preocupações das mães e pais, podendo ser o motivo para introdução desnecessária da fórmula infantil ou mesmo o desmame precoce.
O sono adequado tem um papel central no crescimento e desenvolvimento dos bebês. É durante as fases de sono profundo que acontece a secreção de hormônio de crescimento (GH) e leptina (hormônio regulador de apetite). Quando as crianças não dormem tempo suficiente ou dormem de forma desorganizada podem apresentar picos de irritabilidade mais acentuados, apetite insaciável (pela baixa secreção de leptina), alterações no ritmo
metabólico (trocas de dia por noite p.e ) , problemas de crescimento (baixo ganho de peso) ou desenvolvimento (dificuldade em alcançar habilidades motoras e cognitiva próprias da sua idade).
O bebê ou criança pequena precisa realizar várias pausas durante o dia para regularizar o seu ciclo circadiano, para equilibrar os níveis de cortisol e melatonina de seu organismo, se assim não faz, fica cada vez mais difícil o adormecer e seu ciclo de sono noturno começa mostrar alterações, entrando em conflito com o ciclo de sono familiar. Bebês precisam de
sonecas em frequência adequada para sua idade, e precisará ajuda para realizar estas pausas durante o dia, para conseguir relaxar e permitir que a melatonina exerça seu papel indutor e mantenedor do ciclo de sono. Cabe a aos, pais e mães, ficar de olho e conduzir o descanso acordo com as necessidades de cada idade (pode lhe interessar quanto deve dormir meu filho) .
Nos bebês e crianças pequenas (até 2-3 anos) os ciclos de sono são mais curtos, de 1-3 horas nos recém-nascidos e bebês pequenos, conseguindo períodos de até 4-6 horas em bebês acima de 4kg ou 3 meses. O problema não está em que a criança acorde, o grande problema está na demora em retomar o sono, especialmente durante a noite quando os pais querem dormir, depois de um dia longo de trabalho (dentro ou fora de casa). Durante os picos de crescimento e saltos de desenvolvimento, essas acordadas e a demora em adormecer novamente podem ser maiores, aumentando a preocupação das famílias, levantando frequentemente à hipóteses do leite fraco e indicação desnecessária de fórmula infantil.
Ciclos de sono mais curtos são essenciais para um desenvolvimento neurológico saudável dos bebês, eles precisam dessas acordadas noturnas! Mas também precisam de uma boa rotina, adequando aleitamento e sonecas diurnas eficientes, para que o sono noturno aconteça em longitude adequada. Um bebê que dorme bem de dia irá dormir melhor à noite. Para dormir bem o bebê precisa relaxar. Nas primeiras semanas de vida, o aleitamento e a adaptação à vida extra uterina são os pontos mais críticos. Mamadas eficientes, contato físico e colo costumam ser a melhor estratégia para garantir bons ciclos de descanso diurno nos bebês novinhos, o que se traduzirá em noites de sono mais tranquilas para os pais.
Qual a influência da amamentação no sono?
A satisfação nutricional é um dos estímulos mais relaxantes para o bebê. Um bebê com fome, com baixa ingesta de calorias, que tem dificuldades para realizar mamadas eficientes, pode se mostrar continuamente irritado, ter ciclos de sono muito curtos, que muitas não alcançam as fases de sono profundo. A sucção oral é a fonte primária de nutrição, consolo, conforto, segurança e calma para os bebês, condições essenciais para que o bebê relaxe e sono seja induzido. Muitas mães e famílias não se importam em deixar o bebê dormir com o seio na boca a noite toda, se o descanso familiar funciona bem, todos estão descansando felizes, não há do quê se preocupar, e nada precisa ser mudado. Adormecer sugando, depois de ter esgotado adequadamente a mama, é normal.
É muito comum a queixa do bebê que realiza mamadas intermináveis ou acorda assim que deixado na cama/berço/moisés, isso acontece principalmente quando o bebê é colocado para dormir logo que para de mamar, os bebês se adaptam rapidamente e criam um mecanismo de defesa, aprendem que só fica na proteção do colo da mãe quando está mamando, então faz mamadas intermináveis e se obriga ficar de vigília, não entra em sono profundo, justamente para garantir a segurança, proteção da mãe por perto. A solução é simples, ficar com o bebê no colo após mamar, pelo menos até que esteja numa fase profunda do sono e atenda-o rapidamente quando acordar, nunca esperar o choro para oferecer o seio e o colo.
Algumas mães acham difícil o descanso quando o bebê dorme com o seio na boca, e a primeira solução que muitos propõem é dar chupeta, que na verdade não resolve nada, e pode trazer outra série de problemas à amamentação (veja mais sobre confusão de bicos).
A chupeta, também pode se tornar uma fonte de problemas e acordadas frequentes durante a noite para procurar a chupeta. A mãe não precisa ficar com o seio dentro da boca do bebê, se não quiser, ao sentir que o bebê parou de mamar pode tirar o mamilo da boca e deixar a bochecha encostada no seio por um tempo. Se o bebê está satisfeito nutricionalmente, e não quer mais mamar, o contato físico e movimento irão lhe ajudar embalar o sono facilmente.
Outras queixa frequente, especialmente após os 2 ou 3 meses de idade e na alimentação complementar, são os bebês que começam acordar muito a noite, trocando o período de aleitamento de dia para a noite (amamentação em ciclo reverso), a frequência de xixis na fralda pode ficar muito menor ou até mesmo ter alterações no ganho de peso que lhe desviaram da sua curva de crescimento. O organismo da criança tende se auto regular, garantindo o aporte adequado de nutrientes quando há menos estímulos ambientais e sua mãe se mostra mais disponível (a noite). Nesses casos é importante encorajar um aumento da frequência do aleitamento diurno. Apesar da criança se distrair e conseguir ficar longos períodos sem mamar, a mãe deve ser encorajada manter frequência maior das mamadas ao longo do dia, ajudando manter um ritmo metabólico diurno ativo, e garantindo que a noite o organismo da criança possa desacelerar como deve. (veja mais sobre como corrigir o aleitamento em ciclo reverso )
Encorajando o colo contínuo nos recém nascidos A necessidade de balanço e contato físico é natural para os bebês. Evolutivamente, o bebê de hoje, conserva os mesmos mecanismos de sobrevivências do bebê de nossos ancestrais nômades. Movimento constante, ouvir barulho constante e sentir o calor do corpo são sinônimos de sobrevivência. Se encontrar em silêncio, na escuridão, sem se mexer, e com braços e pernas soltos, só poderia significar uma coisa: a sua mãe teria lhe esquecido, abandonado ou perecido. Sem o principal mecanismo de sobrevivência: o choro, esse bebê nômade teria ficado para trás e nós não estaríamos aqui hoje.
Ficar com o bebê no colo continuamente facilita a observação e o reconhecimento dos seus diferentes gestos, tipos de choros e outros sinais. Um bebê bem estimulado com colo a vontade, tem melhores chances de mamar na frequência certa e correrá menos risco de entrar em hipoglicemia já que sua mãe será capaz de observar os sinais da hora de mamar a tempo. Bebês considerados “dorminhocos”, aqueles que passam longos períodos dormindo sozinhos no berço ou carrinho, podem passar da hora de mamar constantemente, mamando em menor frequência, indo para o peito irritados, dificultando o posicionamento,chegando até correr risco de desidratação ou hipoglicemia. Esses bebês podem estar precisando apenas de mais colo. No colo o bebê é estimulado constantemente pela respiração, a temperatura corporal, os batimentos cardíacos e o movimentos da sua mãe, assim as chances de dormir demais são menores.
A qualidade da amamentação e o sono estão sempre juntos, para dormir bem o bebê precisa estar bem alimentado, e ao mesmo tempo, precisa estar tranquilo e descansado para facilitar o processo de alimentação. Como consultoras e orientadoras é importante encorajar as mães e pais, lhes ajudando identificar e definir estratégias de manejo das fontes de estresse do bebê, que podem atrapalhar o sono e o aleitamento.
Referências:
Elizabeth Pantley. Soluções para noites sem choro. 2002 (Tradução português 2003). MBooks.
Beatriz Duarte Palma, Paula Ayako Tiba, Ricardo Borges Machado, Sergio Tufik, Deborah Suchecki. Repercussões imunológicas dos distúrbios do sono: o eixo hipotálamo-pituitária- adrenal como fator modulador. Rev Bras Psiquiatr. 2007; 29 (Supl I):S33-8
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