O que realmente faz aumentar a produção de leite é uma dúvida bastante comum dentre as mulheres que amamentam. A prescrição de galactagogos, sejam eles alimentos, ervas ou medicamentos, cujo consumo possui como suposto efeito o aumento da produção de leite, tem sido cada vez mais comum. Ela em geral acontece quando o bebê apresenta um ganho de peso “insatisfatório” (conversaremos sobre essa questão do ganho de peso e curvas de crescimento de maneira mais aprofundada outro dia!), ou quando a mãe refere perceber uma “baixa produção”, seja porque o bebê requer a mama com frequência, ou porque as mamas estão constantemente “murchas”.
Mas e aí, eles funcionam mesmo?
Segundo Anderson e Valdes (2007), não há evidências de que o uso de alimentos ou plantas possui eficácia no sentido de estimular ou manter a produção láctea. Por isso, sabe aquele intensivão de canjica ou cerveja preta (aqui ressalto o impacto NEGATIVO do álcool na lactogênese!!!) que sua tia-avó fez e que foi “supostamente” milagroso? Na verdade, o que realmente fez a diferença foi o aumento da CONFIANÇA, calma e tranquilidade daquela mulher. Quando a mulher encontra-se bem emocionalmente, e isso está absolutamente relacionado à confiança em si mesma, as coisas FLUEM e, da mesma forma, percebe-se também uma adequação no fluxo de leite. Isso porque, a ocitocina, hormônio responsável pela ejeção do leite, é produzida no hipotálamo, região cerebral que também regula as emoções.
E aqueles medicamentos com propriedades galactagogas, como a sulpirida, a metoclopramida e a domperidona? Pois então… Se consultarmos suas bulas, vemos que a ação desses antagonistas dopamingéricos pode acarretar num aumento no nível sérico de prolactina. Contudo, embora pareça haver algum estímulo da produção láctea, não há nenhuma evidência científica consistente a respeito da eficácia desses medicamentos para este fim, nem tampouco uma relação direta entre seu uso e o aumento do tempo de aleitamento. Além disso, e não menos importante, ressaltamos que a SEGURANÇA desses medicamentos não foi devidamente avaliada quando prescritos com esses fim, como prevê a medicina baseada em evidências. Entretanto, é sabido que todos representam risco potencial para as mães e/ou para os lactentes.
Recentemente, um trabalho do tipo revisão (Paul et al., 2015), publicado no Journal of Human Lactation, advertiu que o uso da domperidona pode induzir a síndrome do QT longo bem como aumentar os riscos de morte cardíaca súbita especialmente em mulheres. Tendo em vista o uso rotineiro da domperidona como galactagogo e, com base nas evidências observadas, os autores ressaltam que o manejo adequado dos problemas de amamentação pode ser mais eficaz e seguro do que o uso não aprovado deste medicamento.
Dito isto, gostaria de ressaltar uma das PREMISSAS mais IMPORTANTES quando se pensa em amamentação:
NADA deve substituir o manejo adequado dos problemas de amamentação.
OU SEJA:
- Se você ou o pediatra acha que o ganho de peso do bebê ou a produção de leite não está suficiente, procure alguém habilitado pra te ajudar.
- Se você tem dúvidas sobre sua produção de leite e acha que ela pode estar insuficiente, procure alguém pra te ajudar.
- Se você sente dor ao amamentar, procure alguém habilitado pra te ajudar.
- Se você tem dúvidas sobre amamentação, procure alguém habilitado pra te ajudar.
E mais: busque ajuda, em casa, nas redes de apoio à amamentação, converse com outras mães. O uso de medicamentos ou outras substâncias que supostamente aumentam a produção láctea, bem como a introdução precoce de fórmulas podem até resolver um “problema” temporário, mas não permitem a identificação das possíveis causas que acarretaram aquela situação, e muito menos: SUAS SOLUÇÕES.
Esse manejo envolve, necessariamente, conhecimento sobre as condições que podem levar a uma situação de hipogalactia, seja ela real ou fictícia, como das práticas que efetivamente favorecem a lactação fisiológica. Além, é claro, de empatia por parte do profissional, bom senso, paciência e persistência.